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Ribeirinhos e Ibama garantem o nascimento de milhares de tartarugas na foz do Rio Amazonas

Nas ilhas entre o Amapá e o Pará, um ritual silencioso se repete há gerações: tartarugas-da-Amazônia sobem à areia para depositar seus ovos. Mas, por trás dessa cena natural, existe uma operação cuidadosa que envolve ribeirinhos e agentes do Ibama. Juntos, eles estão protegendo cerca de 200 mil ovos nesta temporada de desova, dentro do Programa

Quelônios da Amazônia, que há mais de 40 anos atua na preservação das espécies.


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O trabalho é intenso e começa logo ao amanhecer. Assim que os ninhos são identificados, os ovos são retirados e transportados para áreas mais altas, longe da influência das marés.

O processo, conhecido como translocação, evita que os ninhos sejam destruídos pela água e garante a segurança dos filhotes até o nascimento.

“As marés estão cada vez mais imprevisíveis. Se não fizermos o manejo, boa parte desses ovos seria perdida”, explica Márcia Bueno, coordenadora do programa no Amapá.


Sabedoria ribeirinha e mudança do clima

Entre os guardiões da fauna está Luiz Barros de Sena, morador da região e colaborador do projeto há quatro décadas. Ele viu o comportamento das tartarugas mudar com o tempo — e acredita que o clima tem influência direta nesse processo.


“Antigamente, as desovas começavam em agosto. Agora, elas só aparecem por volta de outubro. O calor e as chuvas estão diferentes, e isso muda tudo para os animais”, conta.

Luiz, a esposa e os filhos participam de todas as etapas: da coleta dos ninhos até o transporte de barco para o local de incubação. Cada detalhe do trabalho carrega o cuidado tradicional de quem vive em harmonia com o rio.


O nascimento que renova o ciclo

As tartarugas sobem à praia sempre no fim da tarde, quando a areia está mais fria. Cada uma cava o próprio ninho e deposita em média 90 ovos. No dia seguinte, os ribeirinhos percorrem a praia para localizar os ninhos e levar os ovos até o berçário natural, uma área segura onde permanecem até a eclosão.


Os filhotes devem nascer entre janeiro e fevereiro de 2026 — e, quando isso acontecer, serão soltos novamente nas águas do Amazonas, completando o ciclo da vida que o projeto se esforça em preservar.

“A cada soltura, é como se a natureza respirasse aliviada. Esse é o resultado de um trabalho coletivo, que une ciência e tradição”, destaca Bernardino Nogueira, superintendente do Ibama no Amapá.


Um legado de mais de 70 milhões de filhotes

O Programa Quelônios da Amazônia foi criado em 1979 e é o mais antigo projeto brasileiro dedicado à proteção de espécies silvestres. Desde então, já salvou mais de 70 milhões de filhotes em toda a região amazônica.


Além de conservar as espécies, o programa estimula o envolvimento das comunidades ribeirinhas, promovendo educação ambiental e alternativas sustentáveis de renda. A meta é produzir até 10 milhões de filhotes por ano, mantendo o Brasil como referência em manejo e preservação da fauna aquática.


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